Stanislavski e o Realismo: vida e obra

No final do século XIX e começo do século XX, Constantin Stanislavski desenvolveu durante sua vida um sistema (não um método!) de atuação baseada na estética realista. Nesse post abordaremos mais propriamente questões relacionadas ao contexto histórico e político que viveu e como isso afetou sua pesquisa. Detalhamentos e explicações específicas serão abordados no próximo post sobre tio Stan.
Chega de enrolação, e vamos nessa!

Stanislavski foi um ator e diretor russo que viveu entre 1826 e 1938. Filho de latifundiários, sua família perdeu grande parte de suas terras para o governo quando ainda era jovem (mas não ficou pobre por conta disso). 14 anos após Antoine, um Francês que estudou a base do realismo teatral, tio Stans começa a desenvolver um tipo de atuação que era totalmente o contrário do estilo declamatório do drama burguês Romântico que vinha se desenvolvendo até então. Por considerar que esse tipo de teatro era “falso” e longe da representação da vida real, buscou uma pesquisa pautada no realismo social (apesar de não ter sido muito engajado em questões políticas russas de sua época), com objetivo de alcançar o máximo da verossimilhança em cena, o que batia de frente com o teatro comercial, que era focado na produção em massa e muito popular na época.

Em 1897 encontra um grande parceiro de pesquisa, Dântchenko, e no ano seguinte fundam o Teatro Arte de Moscou. Ter o nome de ‘Teatro Arte’ significou um estúdio que não tinha como objetivo principal o lucro, como era o teatro comercial romântico, mas sim focar no estudo e desenvolvimento da arte teatral, sendo mais importante o processo do que o produto final.

Com o TAM, Stanis e Dântchenko propuseram discussões acerca da naturalidade vs a artificialidade cênica, onde foram desenvolvidas técnicas como a famosa quarta parede e uma cenografia realista (objetos que aproximassem a cena do real). É durante essas pesquisas que Stan também desenvolve e teoriza um método de ensaio para atores (não estamos falando do sistema de preparação e de criação ainda).

O TAM só conseguiu fazer sucesso com sua segunda montagem, em dezembro de 1898: estrearam ‘A Gaivota’ de Anton Tchekhóv (disponibilizamos esse livro aqui no blog, é só clicar no link!).
Nos anos seguintes, o TAM fez muito sucesso com suas montagens, e tudo parecia correr bem até que em abril de 1902, Stanis perde um de seus atores principais: Meyerhold, que sai levando um grupo de atores consigo devido à diferenças criativas. E em novembro de 1906, se desentende com Dântchenko e acabam se separando,

Apesar das divergências, tio Stan continuou suas pesquisas e em 1911 deu início à introdução de seu sistema no TAM. No ano seguinte, funda o primeiro estúdio de treinamento, onde aplicava seu sistema à formação de novos atores. Durante os anos de 1914 e 1917, teve que dar algumas pausas em seu trabalho devido à Primeira Guerra Mundial e à Revolução Russa.

Em 1919, Lenin assiste um espetáculo do TAM e o declara como patrimônio cultural da Russia. Entre 1922 e 1924, o TAM fez turnês pela Europa e pelos EUA, e em 1924 publica seu primeiro livro nos EUA, o ‘Minha Vida na Arte’ (publicando em russo apenas em 26).

O TAM fez tanto sucesso nos EUA, que Stanis deu carta branca para um de seus alunos que ficou lá durante a turnê para publicar sua pesquisa em livros (devido ao fato de Stalin ter assumido o governo russo e começado a censura). Este aluno então fez um compilado de temas, que não segue a ordem cronológica de sua pesquisa, publicando em 1936 a primeira edição do livro ‘A Preparação do Ator’.

É por causa desse recorte, que no livro é possível encontrar um capítulo que fala que o processo de atuação ocorre “de dentro de fora”, e em outro, falando que também ocorre “de fora pra dentro”.

Em 1937, no auge da censura Stalinista, Stanislavski morre em Moscou, não chegando a ver a publicação dos seus outros livros: em 48, A Construção da Personagem; e em 61, A Criação de Um Papel.

Seu sistema, explicado em 3 livros, não foi criado para ser seguido como uma receita de bolo, um método de atuação a ser seguido por A+B=C, mas sim como um estudo de seu trabalho de pesquisa e formas de aplicação no estudo do ator. Em 2015, foi publicado o livro ‘Stanislavski: vida, obra e sistema’, que é um compilado do primeiro e do segundo livro, traduzido direto do russo e organizado em ordem cronológica de pesquisa, e que está muito mais atualizado que as 3 primeiras edições de seus livros. Recomendamos essa leitura, apesar do preço dos livros ser um pouquinho mais salgado, têm muito mais riqueza de detalhes e uma pesquisa muito mais profunda e detalhada sobre sua vida e seu sistema!

E aí, ta esperando o que pra aproveitar e se jogar nos livros daquele que foi um dos primeiros a sistematizar e enfatizar a pesquisa e o estudo do ator?
Você já conhecia o sistema do Tio Stan? Conta pra gente!

Bibliografia:
 Carlson, Marvin; Teorias do Teatro, ed. Unesp
 Stanislavski, Constantin; Manual do Ator, ed.
Martins Fontes
 Stanislavski, Constantin; O Trabalho do ator, diário
de um aluno. Ed. Martins Fontes
 Vássina, Helena, Labaki, Aimar; Stanislávski, vida,
obra e sistema. Ed. Funarte

AUTOR: JOHN MARQUES

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