No post de hoje falaremos sobre o ator e diretor japonês Yoshi Oida, que trabalhou com Peter Brook em Paris, buscando fazer a ponte entre teatro oriental e ocidental; e sobre o livro ‘O Ator Invisível’ que escreveu com a colaboração de Lorna Marshall. Vem com a gente!

Para começo de conversa, é importante ressaltar que esse livro não é uma “receita de bolo” para o sucesso da atuação, mas sim um convite à reflexão. São apresentadas questões, sugestões, histórias e exercícios a fim de aprofundar a arte do ser atuante.
Logo na introdução, Yoshi vai defender a ideia do ator “invisível”. Segundo ele, interpretar não está ligado ao exibicionismo formal ou ao virtuosismo técnico, mas sim ao revelar sensitivo de “algo a mais”, algo que não se encontra na vida cotidiana. É preciso que o público “esqueça” o ator, mergulhe no mundo e na vida que seu corpo e arte criam no palco.
Seguindo a tradição oriental de um olhar ritualístico para o fazer teatral, o livro começa defendendo a limpeza do ambiente. Mas não qualquer limpeza!

fonte: uol.com.br
Através do conceito de samadhi (estado de concentração plena e profunda da filosofia budista indiana), buscar concentração total nos movimentos e nas ações do aqui e agora (momento presente), apoiados pela energia do universo além da nossa energia pessoal. Bonito né?
Então limpar não se trata apenas de uma preparação do espaço, mas de assegurar o corpo em um estado de prontidão. Sendo portanto, parte integral do próprio treinamento.
Além de cuidar do espaço, Oida propõe o cuidado com o corpo, e segundo a tradição japonesa, de seus 9 orifícios: dois olhos, duas narinas, duas orelhas, uma boca, um para passagem de água e um para defecação; “todos precisam de atenção”.

Outras áreas importantes que merecem atenção: coluna vertebral, pois com a coluna ativa ficamos mais sensíveis e despertos; o Hara (centro de gravidade do corpo humano, abaixo do umbigo), considerado também o centro da força da personalidade, da saúde, da energia, da integridade, e o sentido de conexão com o mundo e o universo; e as mãos, que têm pontos que funcionam como “canais que conectam o centro energético ao mundo exterior”.
Considerando essencial aprender a geografia do corpo humano, o estudo do movimento é proposto a partir da exploração de níveis e possibilidades de padrões de movimentação para atingir uma consciência desperta do corpo e de suas capacidades para o trabalho artístico interior. “Cada minúsculo detalhe do corpo corresponde a uma diferente realidade interior”.

Através de técnicas do teatro nô, como por exemplo o JO-HA-KYU (progressão rítmica), Yoshi propõe a busca de uma estrutura de espaço e tempo-ritmo teatral que seja real, evitando que as ações em cena fiquem ‘frouxas’.
Uma vez que condiz com o quê se está fazendo, coerente com os atores e com o público, facilita o surgimento espontâneo de sentimentos autênticos, tornando assim a ação mais verdadeira.
A busca por um corpo vivo permeia os capítulos restantes do livro, revelando a importância de ter uma consonância entre: interno e externo, no entendimento que não são criações separadas; energia humana, que quando bem trabalhada, dá a sensação de o ator ser maior do que ele é no palco; auto-observação, buscando simetria corporal e existência para além das formas e fronteiras físicas; relação com outros atores, a fim de se explorar reação, sintonia e troca viva no palco; e na relação com o público, “sentir o público” em uma relação complementar de equilíbrio ligada à ideia de Yin/Yang, percebendo-o e jogando com ele para a criação no palco.

Além do ‘Ator Invisível‘, o trabalho de Yoshi Oida também pode ser encontrado nos livros ‘O Ator Errante‘ e ‘Artimanhas do Ator‘.
Os três são indicações fortíssimas do Teatro em Escala para qualquer estudante de teatro, pois além de ser extremamente rico e pertinente o olhar do autor para o seu fazer teatral, é uma linguagem acessível e possível de ser compreendida e debruçada pelos amantes das artes da cena.
E você, já leu algum desses livros? Conta pra gente a sua opinião e a sua experiência com o Yoshi Oida.
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AUTOR: JOHN MARQUES (@JOHN_MARQUESS)