Tee entrevista: Nicole Cordery

Nossa entrevista de hoje é com a incrível atriz, locutora e escritora Nicole Cordery. Falamos sobre seus trabalhos mais recentes e o experimento teatral ‘Pandas, ou era uma vez em Frankfurt’ que acontece via Zoom com o microfone do público ligado, e vocês podem conferir a seguir!

Fonte: Assessoria @catinglab1

JOHN: NICOLE, ANTES DA QUARENTENA VOCÊ ESTAVA EM CARTAZ COM A PEÇA ‘CHERNOBYL‘, E ENSAIANDO OS ESPETÁCULOS ‘ALIENS‘, ‘FELIZ DIA DAS MÃES‘ E ‘E AS CRIANÇAS?’. CONTA PRA GENTE UM POUCO SOBRE ESSES PROJETOS.

NICOLE: Parece que se passaram 3 anos, abril parece que foi em 2018. Bom, eu estava com a peça ‘Chernobyl’, fizemos apresentações no Sesc Consolação, na Oswald de Andradre, alguns festivais… Estávamos preparando pra viajar com a peça.

Em paralelo, eu estava fazendo uma leitura pública do ‘Aliens’. O plano era a gente ensaiar em março, logo depois da leitura. O ‘Feliz dia das mães‘ estava em captação, e iríamos começar a ensaiar ainda no primeiro semestre.

A peça ‘Nunca fomos tão felizes‘ provavelmente voltaria agora no segundo semestre, estava em processo de captação também. E fora isso, uma peça chamada ‘E as crianças?‘ que estou ensaiando loucamente online com a Fernanda Viacava. Entraríamos na sala de ensaios quando começou a pandemia.

J: ALGUM DESSES PROJETOS ESTÁ SE ADAPTANDO AO FORMATO ONLINE OU ESTÁ TUDO ‘CONGELADO’ POR CONTA DA QUARENTENA?

N: Tá tudo congelado. Eu sei que as meninas do ‘Dia das Mães’ estão produzindo um vídeo para captação de patrocínio, mas não pra fazer a peça online, até porque é uma peça com 9 atores. Estão preparando uma ‘promo’ da peça pra quando for possível esse retorno utópico no teatro físico. O ‘E as crianças?’ com direção da Noemi Marinho vai acontecer nos palcos também, quando for possível.

E ai veio o grande encontro com Bruno Kott, diretor do ‘Pandas‘, pois ele vem do hibrido. Ele é um diretor de cinema que trabalha linguagem teatral no cinema, e um diretor de teatro que trabalha linguagem de cinema no teatro, então tem sido muito enriquecedor.

Fonte: Divulgação @pandasoueraumavezemfrankfurt

J: A PRODUÇÃO DESSE TEXTO, QUE VEM DO TEATRO DO ABSURDO, SE ALIMENTOU DO FORMATO ‘ONLINE’ OU AINDA TIVERAM MUITAS ADAPTAÇÕES?

N: Então, é curioso porque no primeiro contato que eu tive com o Matei Visniec (dramaturgo da peça original), ele escreveu a seguinte frase por e-mail: de fato, essa é a minha peça mais pertinente para o momento atual. São dois atores, então facilita a questão de ter um plano e um contra-plano. É uma peça de teatro do absurdo sim, mas com um cunho mais existencialista do que social.

Na peça dele, a minha personagem (a ELA) é a morte. Na nossa adaptação, ela pode ser vista sim como a morte, mas ela é mais humana. A gente sugou, puxou tudo o que nos interessava nesse texto para contextualizar com a pandemia. Na íntegra deve ter 1h30, a nossa tem 35 minutos, e a gente aproveita tudo que tem de interferência sonora.

Teve um trabalho de dramaturgia em cima da peça do Matei. Você cria o que você quer contar a partir do recorte que você faz, não é apenas um simples trabalho de colagem e o Bruno fez uns enxertos pra dar liga no texto. Nas nossas apresentações, a gente põe elementos pra deixar claro que o personagem está sendo importunado pelo exterior. A gente tenta sugar do Matei o que nos interessa.

J: E COMO FOI TRABALHAR COM O DIRETOR BRUNO KOTT? VOCÊS JÁ SE CONHECIAM?

N: Não, eu nunca tinha visto ele antes na vida. Ele já tinha me visto em cena, conhecia meu trabalho. Mas está sendo muito boa a experiência, porque ele foi me sacando nos ensaios, vendo para onde podia ir ou não. E eu me entreguei totalmente. Foi muito importante pra mim e pra minha sanidade durante esse momento, porque eu tinha vários projetos, e de repente, não poder fazer nada. Ou eu me entregava totalmente ou eu sucumbia. E eu acho que ele fez um trabalho muito delicado e eu queria muito esse encontro.

J: VOCÊS SE APRESENTAM PELO ZOOM ?

N: Isso, o link é gerado pela Sympla. A pessoa tem que baixar o aplicativo Zoom e na hora da peça acessar pelo Sympla.

A gente está passando por um processo de formação de público agora. Nós três somos tudo: mídia social, parte gráfica, assistência, tudo. E estamos fazendo um trabalho de entrar em contato com as pessoas que não apareceram na hora da peça e perguntar se a pessoa teve alguma dificuldade, se quer ajuda, se gostaria de receber outro ingresso pra assistir. Às vezes as pessoas xingam, às vezes agradecem e voltam.

GABI: ESSE É UM PONTO POSITIVO DO TEATRO ONLINE NÉ, ESSA NOVA RELAÇÃO COM O PÚBLICO?

N: Com certeza, a relação com o público se estreitou. Quando eu estava no Teatro Itália fazendo peça, no máximo pediam pra tirar uma foto. Com os Pandas, as pessoas falam com a gente no final. E é impressionante como o vínculo do olhar em uma relação horizontal onde todos tem o mesmo tamanho de tela e o mesmo direito de fala, acaba aproximando. As pessoas começam a conversar entre si, interagir, trocar sobre a experiência daquele dia. É um vínculo novo, uma abertura nova. Existe um pudor entre o público no teatro ao vivo. Agora, sentimos uma democratização entre o público e os artistas. Não estou em um palco sentada num banquinho diva falando sobre a experiência de fazer aquele personagem.

Fonte: Assessoria @castinglab1

J: VOCÊ TAMBÉM SENTE ISSO NA RELAÇÃO COM A SUA ATUAL WEB SÉRIE ‘NÓS’?

N: Sim, e é mais escrachado ainda. Ali é um canal totalmente aberto de interação com quem nos assiste. E foi muito legal fazer essa série, é uma história de amor entre duas mulheres, e acabou de sair a segunda temporada.

E são vibes muito diferentes, pois a web série é do lugar do audiovisual: escolha de enquadramento, edição, vários takes… Nos Pandas, a natureza é diferente. E ‘Nós‘ me traz também a questão do empreendedorismo da atriz, ninguém me ligou pedindo pra fazer. Eu nunca tinha tempo, nem meios pra fazer um trabalho meu assim. Veio a pandemia e a gente fez. Fizemos uma página no Instagram e ai começamos a existir como produto. Eu percebi que tenho uma capacidade de escrita e de auto-produção que não sabia que tinha.

Fonte: Divulgação @webserienos

J: E QUAIS SÃO SEUS PLANOS PRO PÓS-PANDEMIA?

N: Eu acho que vou continuar fazendo Pandas em horários paralelos. Pretendo voltar aos palcos em lugares fechados só a com certeza absoluta que ninguém vai estar em risco.

Eu to com muita vontade de fazer um solo online, estou investigando texto. Tem muitas formas e textos que podem ser contados no online. Num primeiro momento, muitas pessoas disponibilizaram links de peças antigas, inclusive eu. Mas também surgiram muitas produções que só fazem sentido no online, que é o que a gente fez nos Pandas. É uma dramaturgia feita pra esse vértice, isso me interessa. Não é uma peça de teatro que adaptei pra esse lugar, essa adaptação a qualquer preço eu não faço. Eu gosto de explorar essa nova mídia.

Fonte: Divulgação @nicole_cordery

Gostaria de voltar a fazer ‘Chernobyl‘, adoraria fazer o s com mais estrutura de equipamento. Também escrevi um livro sobre mulheres viajando sozinhas. Eu levei muito tempo escrevendo esse livro, e consegui uma agente literária incrível, que disse que queria que o livro rodasse em aeroporto, rodovias, e fechamos o contrato no dia 13 de março. E aí no dia 17, fechou tudo. Voltando tudo, eu pretendo fazer uma primeira viagem pós-covid, e ser o primeiro capítulo desse livro. E ver esse filho circulando por aí.

E com a Sandra Corveloni, que está fazendo uma provocação com alguns artistas pra fazer um “cinema online”, estamos no meio desse processo entendendo como fazer ainda.

J: E PRA FINALIZARMOS, O SEU FAZER ARTÍSTICO MUDOU MUITO DE PERSPECTIVA DEPOIS DAS VIAGENS E DE ESCREVER O LIVRO?

N: Sim, na verdade eu viajo desde muito nova. Eu vivi em Paris de 2006 a 2011 e viajei muito internamente quando estava lá. Quando voltei pra morar aqui, fiquei no vai e volta trabalhando lá durante muito tempo. Conheci uma diretora sueca que me ajudou muito na minha pesquisa de mestrado sobre o Strindberg, e começamos uma parceria de criação e ensaios lá, e apresentação daqui e de lá. Então eu acabei virando de uma atriz-viajante, gosto muito de ir em festivais internacionais. E eu escrevia esse livro em viagens, e ele é uma convocação para colocar as pessoas em “risco”, não de vida, mas de se aventurar em um país com uma língua totalmente diferente da sua.

SERVIÇO:


PANDAS OU ERA UMA VEZ EM FRANKFURT
APLICATIVO: SYMPLA
TEMPORADA: De 17/07 à 30/08 (podendo ser prorrogada)
INGRESSO: R$20,00 (R$17,50 + R$2,50 de taxa)

NÓS
INSTAGRAM: @webserienos

Transcrição e Revisão: John Marques

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s