Na entrevista de hoje, conversamos com Adriana Câmara, Gizelle Menon e Glau Gurgel, elenco da peça “As Palavras da Nossa Casa”. Eles contaram pra gente sobre a temporada online da peça e como se adaptaram ao formato online, vem com a gente!

JOHN: VOCÊS FAZEM PARTE DO NÚCLEO TEATRO DE IMERSÃO. CONTA PRA GENTE UM POUCO DA TRAJETÓRIA DO NÚCLEO ATÉ AQUI…
ADRIANA: O Núcleo existe desde 2014, mas nosso primeiro espetáculo foi ‘Tio Ivan’ em 2017. Glau já entrou nesse primeiro, e Gizelle fez uma oficina de teatro imersivo com a gente, que foi quando nos conhecemos e a convidei para fazer “As Palavras da Nossa Casa”.
J: ‘TIO IVAN’ GANHOU PREMIO APLAUSO BRASIL 2018 DE MELHOR ESPETÁCULO DE GRUPO POR VOTO POPULAR. VOCÊS TÊM PLANO DE VOLTAR A CIRCULAR COM ESSA PEÇA?
ADRIANA: Tio Ivan não mais, estamos a todo vapor com “palavras da nossa casa”, esperamos que o espetáculo tome mais um fôlego, e depois de um tempo apresentando, já começar um novo processo de montagem…
J: ESSE ESPETÁCULO ESTREOU AGORA NO COMEÇO DE 2020 NA CASA DAS ROSAS, CERTO?
A: Isso, em janeiro. A casa das rosas nos convidou a ficar até final de abril, mas com a pandemia tivemos que parar no meio de março.

J: NA SINOPSE, HÁ A INFORMAÇÃO QUE O ESPETÁCULO FOI INSPIRADO EM OBRAS DO DIRETOR SUECO INGMAR BERGMAN. ESSE TEXTO VEIO DE UM TRABALHO ESPECÍFICO DO BERGMAN OU DE SUA OBRA COMO UM TODO?
ADRIANA: Eu gosto muito da obra do Bergman como um todo, mas pegamos como base a “Sonata de Outuno”. Adaptamos as relações e os elementos que têm na obra, mas usando também (principalmente no presencial) referências nossas. No original, existem mais personagens e outras situações, então nós trouxemos muito do estudo e da construção da relação que as personagens têm entre si.
J: E COMO FOI PRA CADA UM DE VOCÊS CRIAR ESSES PERSONAGENS? A CONSTRUÇÃO PERPASSOU POR QUESTÕES PESSOAIS DE VOCÊS OU FOI MAIS DISTANTE?
GIZELLE: Charlotte foi surgindo pelas leituras do texto, mas muitas coisas eu tirei por ser mãe e filha: as discussões com os filhos, com minha mãe, fui tirando de experiências próximas, buscando essa memória emotiva. Ela é uma personagem muito complexa, imprevisível, por vezes imatura, então acabou dando um pouquinho de trabalho. Mas eu gosto muito por ela ser a frente do tempo.

No presencial, a ambientação é nos anos 60. Então uma mulher que não vive pra casa e pro marido, que coloca sua carreira como prioridade, é um comportamento muito incomum pra época.
Ela queria viver esse momento da fama e da carreira, então ela se viu muito dividida entre o ambiente familiar e profissional. Criar esse conflito foi muito desafiador, mas também muito prazeroso.
ADRIANA: A Eva é uma personagem que talvez me identificasse muito anos atrás. Quando você é mais novo, você se sente muito cobrado pelos seus pais, pela sociedade. Muitas dessas questões são minhas e de muitos adolescentes, como por exemplo, também usei aparelho quando nova da mesma forma que a personagem.
Eva tem o desconforto de não se sentir amada pelos pais, diferente de mim. Então o trabalho de construção foi reencontrar essa memória de desconforto, mas também de me colocar verdadeiramente no lugar dela. Foi mais um trabalho de empatia do que realmente de identificação.
E enquanto diretora, o grande trabalho é evitar que os personagens sejam colocados em papéis de vilões. Porque são histórias reais, pessoas com motivações e vontades reais, que podem acabar se machucando sem nem perceber. É preciso ter esse olhar cuidadoso para realmente humanizar essas personagens.

GLAU: Eu brinco que eu faço uma participação especial com o Vitor. Mais que especial na verdade, pois ele se encontra no meio desse conflito todo entre mãe e filha, e mesmo com toda sua dedicação, o Vitor diz que “nunca achou as palavras certas pra dizer a Eva o quanto a ama”.
Pessoalmente, eu não tenho muitas semelhanças com o Vitor, pois não sou pai nem evangélico. A criação parte do texto e das relações que ele tem com as personagens, que são muito importantes. Primeiro, tem a relação com Eva, que é fundamental para sua fé, sendo ele absolutamente apaixonado pela mulher e pela igreja. Com Charlotte, há uma relação de respeito, mas um pouco mais distante. Ele tenta ajudar e conciliar da forma que pode, entendendo que tem um problema entre elas.
Por ser cantor lírico, eu conheço várias “Charlottes”, essas mulheres que colocam o trabalho em primeiro lugar. Já ouvi alguns casos de relações familiares conturbadas, então é muito legal de perceber esse paralelo da vida com a arte.
GABI: QUANDO VOCÊS ESCOLHERAM O NOME DA PEÇA, FOI DEVIDO A UMA LIGAÇÃO COM O CENÁRIO PRESENCIAL, ONDE O PÚBLICO ASSISTE DE DENTRO DA CASA DAS PERSONAGENS?
ADRIANA: O nome vem do texto, quando a filha diz que a mãe roubou “todas as palavras da nossa casa”. Então no final das contas, a ‘palavra’ é muito importante nesse texto, porque a filha está retomando as palavras que a mãe roubou dela.
J: E AGORA QUE A PEÇA ESTÁ ONLINE, QUAL FOI A MAIOR ADAPTAÇÃO QUE VOCÊS TIVERAM QUE FAZER PRA ESSE NOVO FORMATO?
ADRIANA: A principal adaptação foi trazer um texto da década de 60 para os tempos atuais de pandemia. Transformamos a visita da mãe que era presencial em uma vídeo-conferência, justificando a presença virtual das personagens. Colocamos a pandemia e a quarentena em termos narrativos, para não ser apenas uma forma de transmissão do texto.
A Charlotte faz essa visita à filha e ao genro, e o Vitor está em isolamento devido um fiel de sua igreja testar positivo com COVID-19. Então justificamos cada um dos atores estarem em uma câmera diferente.
J: E QUAIS SÃO OS PRÓXIMOS PLANOS DE VOCÊS PARA O PÓS-PANDEMIA?
ADRIANA: Primeiramente, queremos muito fazer mais uma temporada da peça. Queremos muito fazer na casa das rosas ou em outro casarão, para manter a ambientação da década de 60. E aí começaremos o processo de um novo texto, mas não sabemos ainda qual será ou quando.
GLAU: Eu tenho sonho de fazermos juntos uma série imersiva, uma história que as pessoas voltem no mesmo lugar para ver uma continuação narrativa. Quem sabe para o próximo ano.
SERVIÇO:
TEMPORADA: de 18 de julho a 30 de agosto
Aos sábados, às 21h, e aos domingos, às 20h
INGRESSOS: R$20,00
Venda Online: http://www.sympla.com.br/nucleoteatrodeimersao
Aplicativo SYMPLA (disponível na PlayStore e AppStore)
SITE: http://www.nucleoteatrodeimersao.com
@nucleoteatrodeimersao