Nossos próximos entrevistados do blog são: Luis Filipe Caivano e Marcelo Braga, dramaturgos do mais recente projeto da Cia Filhos do Dr. Alfredo, o Cenas Invisíveis. A entrevista você confere a seguir:

TeE: O CENAS INVISÍVEIS É O TRABALHO MAIS RECENTE DA CIA. FILHOS DO DR. ALFREDO. ANTES DELE E DE COMEÇAR A QUARENTENA, QUAIS ERAM OS PROJETOS DA CIA?
MARCELO: Ano passado fizemos um espetáculo chamado “Quem fica com quem?”, que era de direção e dramaturgia dupla, em uma parceria muito bacana com o José Eduardo Vendramini. Escrevemos a partir de histórias que a gente trocava em almoços e cafés sobre pessoas que conhecemos. Em determinado momento, com mais de 30 cenas escritas, cada um de nós tinha uma peça praticamente pronta, falando sobre as relações humanas.
Fomos contemplados no edital Cleyde Yáconis, ficamos em cartaz no Espaço Cênico Viga de maio a julho, e depois apresentamos no Teatro Alfredo Mesquita em outubro. O que foi uma honra, porque o nome da cia. é uma homenagem ao Dr. Alfredo Mesquita, que foi fundador da EAD (Escola de Arte Dramática). A gente deve muito do teatro brasileiro à EAD e ao Dr. Alfredo, grandes nomes vieram e ainda vem dessa escola incrível.
Em paralelo, eu tenho um texto inédito que inscrevi no edital Zé Renato, mas que paramos com esse projeto por conta da pandemia.
TeE: CENAS INVÍSIVEIS TRAZ PARA O PÚBLICO A PROPOSTA DE OUVIR TEATRO. COMO FUNCIONARAM AS GRAVAÇÕES DOS EPISÓDIOS, VOCÊS A FIZERAM REMOTAMENTE OU CHEGARAM A SE REUNIR EM UM ESTÚDIO?
LUIS: As gravações das 6 cenas foram feitas presencialmente, com todos os protocolos de segurança e distanciamento, quase uma operação de guerra. Fizemos os ensaios remotamente por um bom tempo, até nos sentirmos preparados para gravar os episódios. E gravar presencial foi uma opção porque acreditamos que trouxe um calor diferente para as cenas, e então valeu a pena o esforço. Ficamos muito satisfeitos com o resultado.

TeE: E VOCÊS NÃO QUISERAM FAZER CAPTAÇÃO DE IMAGEM TAMBÉM ?
LUIS: Então, tem duas questões que nos permearam sobre essa questão. A primeira é que gravar um projeto audiovisual, com um acabamento que não seja amador, exige muito mais tempo, recurso e equipamento. Então desde o começo nos propomos a fazer um projeto de áudio porque queríamos entregar um trabalho bem feito.
E a outra é que somos uma companhia de teatro, então é uma área que teríamos que dedicar muito mais tempo para realmente nos apropriarmos. A ideia mesmo é aproveitar a grande procura que está acontecendo aos podcasts, e também nos remetendo um pouco às radionovelas, então idealizamos desde o começo que fosse um trabalho só de áudio.
TeE: A DRAMATUGIA É A JUNÇÃO DE TEXTOS TANTO DO MARCELO QUANTO DO LUIS. COMO FOI O PROCESSO DE CRIAÇÃO, VOCÊS ESCREVERAM PENSANDO NO FORMATO ONLINE OU FORAM ADAPTAÇÕES DE TEXTOS JÁ PRONTOS?
M: Na verdade, as minhas cenas nasceram no formato teatral. Quando surgiu o cenas invisíveis, eu conversei com uma integrante da companhia e disse que tinha cenas que acreditava que serviam para o formato de podcast e então enviei para as pessoas lerem. É muito legal porque as cenas têm um link: uma personagem que perpassa as duas cenas.
L: Pra mim foi um pouco diferente, as minhas cenas não estavam escritas antes de pensar no Cenas Invisíveis. Nós fizemos uma pesquisa em cima do trabalho de outras companhias de teatro, que estão fazendo cenas online, e assim que fechamos a ideia, conversamos com o Marcelo e eu comecei o processo de escrita, Foi um processo atípico pra mim, porque eu escrevia em uma semana e já mostrava pro resto da cia. nos ensaios, super corrido. 3 cenas foram feitas com o processo já em andamento, e eu não estava acostumado a escrever com prazo e pensando já nos atores que estariam nas cenas.
O Cenas Invisíveis na verdade é meu trabalho de estreia, até então as coisas que eu escrevia ficavam muito restritas a mim e a poucas pessoas.
TeE: E OS 6 EPISÓDIOS, SÃO HISTÓRIAS FECHADAS OU ELES SEGUEM UMA LINHA DE TEMPO NARRATIVA?
M: As cenas são fechadas em si próprias, não é necessário que se ouça todos os episódios para entender cada um deles. É interessante esse processo de cenas, porque isso traz uma dinâmica muito interessante tanto pra quem está acompanhando, quanto pra nós que o fizemos.
TeE: VOCÊS ESTREARAM O PRIMEIRO EPISÓDIO NO DIA 24/08. COMO TEM SIDO A RESPOSTA DO PÚBLICO? ACREDITAM QUE É POSSÍVEL AINDA MANTER UMA RELAÇÃO DE TROCA VIVA DO ARTISTA COM QUEM O ASSISTE, MESMO ESTANDO EM DISTANCIAMENTO FÍSICO?
M: A experiência teatral no geral durante a pandemia é muito diferente de tudo que fazíamos até então. Tivemos que encontrar uma forma de continuar presente, mesmo em um cenário pandêmico. Eu tenho tido experiências de ver espetáculos online, e claro que não é o mesmo contato de estar fisicamente. O teatro é a experiência do vivo.
Quando surgiram o cinema, o rádio e a televisão, muitos disseram que o teatro ia morrer, mas não morreu. Então nenhuma mídia nova que venha vai substituir a experiência viva que é estar em um mesmo ambiente com pessoas totalmente diferentes trocando no aqui e no agora.
O que estamos realmente tentando, é aproximar as pessoas através da câmera, porque é o que dá pra fazer no momento. Tem um contato humano, que não é e nunca vai ser igual estar no teatro presencialmente. Eu sinto muita falta do fazer teatral enquanto educador e artista, mas também acho essencial que a gente volte a fazer com segurança.
L: A ideia dessas cenas é de trabalhar com uma alternativa possível dentro do contexto atual, não de substituir o teatro. A experiência é muito válida para todos, principalmente para os atores, que comentaram sobre a valorização do trabalho da interpretação vocal, então tudo isso dialoga indiretamente com a prática do teatro. E é muito legal também quando as pessoas comentam, a gente consegue ter um acesso muito preciso em números de visualizações, interações e etc. Temos também um retorno bem legal nas redes sociais, algo que não tínhamos mensurado antes ou colocado como meta.
Todos os episódios se encontram disponíveis no canal do youtube da Cia Filhos do Dr. Alfredo, e não esquece de segui-los também no instagram @filhosdodralfredo !