Feliz 2021 leitores do TeE! É um prazer estar de volta escrevendo mais uma análise de textos históricos-teatrais para vocês. E para começar o ano bem, vamos falar dos escritos Aristotélicos sobre a arte e o teatro na Grécia Antiga, vem com a gente!

Para quem nunca leu ou ouviu falar, ‘A Poética’ é um conjunto de “regras”, pré-requisitos, para se obter uma produção artística considerada ideal aos olhos de Aristóteles, um dos principais filósofos do período clássico da Grécia Antiga. No nosso estudo, focaremos apenas naquelas que se relacionam diretamente com o teatro, mas fica a recomendação de leitura caso queira aprofundar mais seu conhecimento da sociedade grega antiga.
Aristóteles escreve partindo do pressuposto que toda arte é uma imitação, e que essa imitação não é uma cópia fiel da realidade, mas sim uma suposição melhorada (tragédia) ou piorada/degradada (comédia). Então desde a Grécia Antiga, têm-se o juízo de que a tragédia (o drama) é de qualidade superior à comédia. Isso se deve ao fato de considerar que a comédia, o risível, é uma imitação dos piores cidadãos, e que a graça se dá devido a representação piorada dos considerados inferiores. É daqui que nasce a representação estereotipada, exagerada, de personagens considerados toscos nas produções cômicas.
Esse raciocínio segue a ideia de que o risível não pode “me” afetar pessoalmente enquanto espectador para causar o efeito do humor, pois não posso me considerar um cidadão inferior aos outros que estão ao meu redor. No entanto, ainda é preciso que haja conhecimento prévio sobre o assunto ou personalidade representada (exemplo, o bêbado) para gerar efeito cômico. A risada ocorre a partir daquilo que conhecemos, do que consideramos inferior, e que por “direito natural”, se torna risível.

E, portanto, se a comédia é uma imitação piorada dos seres inferiores, a tragédia é a imitação de uma ação de caráter elevado, daqueles considerados superiores. Considera-se que os melhores ‘imitadores’ (atores) são aqueles que representam os grandes personagens: reis, generais, nobres… (Lembre-se, estamos falando de aproximadamente 384 a.C.; qualquer semelhança com a atualidade é mera coincidência?)
Para a produção de uma tragédia ideal, Aristóteles estabelece a lei das 3 unidades: tempo, lugar e ação. O tempo ficcional ideal é uma ação que ocorre dentro de um período completo do sol (24 horas), extensão considerada nem muito curta e nem muito longa; o lugar ideal, cenário único (unidade de espaço cênico visto pelos espectadores); e a ação ideal é completa, ou seja, tem começo, meio e fim no encadeamento dos acontecimentos.
Mas o ponto considerado imprescindível para uma tragédia ideal é sua finalidade catártica. A catarse é a purificação do espírito (emoções) do espectador através do espetáculo. Por exemplo, ao ver um personagem sofrer os piores males por desobedecer às leis dos homens ou dos deuses, o espectador expurga seus sentimentos e vontades de transgredir essas mesmas leis, temendo ter fim igual ou pior daquele visto em cena, tendo então atingido o sentimento catártico.
Importante lembrar que teatro e a política grega se relacionavam diretamente, representando por exemplo, o que a população deveria pensar de políticos ou figuras públicas das cidades-estados (Atenas, Esparta, Tebas…).
Percebem que muito dos escritos antigos refletem questões e debates que temos atualmente no nosso fazer teatral? Nós do TeE consideramos essencial o estudo da história do teatro, justamente por entender de onde viemos, para onde estamos indo e levantar a maior quantidade de “por ques” em nossas buscas por conhecimento e sensibilidade artística.
E você, que reflexões surgiram ao ler sobre a Poética de Aristóteles? Divide com a gente aqui nos comentários, e se quiser saber mais sobre teatro grego, acessa nosso outro post falando sobre ou procura a aba “História” dentro da guia “Teatro”, que lá você vai encontrar muita coisa legal sobre a história do teatro mundial e brasileiro. Evoé!
Fontes:
ARISTÓTELES. A Poética. 323 a.C.
BERTHOLD, M. História mundial do Teatro. 1972.