A análise do TeE de hoje é sobre o texto Antígona do grego Sófocles, escrita aproximadamente em 440 a.C., fazendo parte de uma trilogia de tragédias tebanas. Vem com a gente!

Talvez você já tenha ouvido falar do pai de Antígona, Édipo. No final peça ‘Édipo Rei’ (aprox. 427 a.C), após descobrir que havia desposado de sua própria mãe e assassinado o próprio pai (o que inspirou o estudo freudiano nomeado de “complexo de édipo”), em seu desespero, Édipo arranca os próprios olhos e se retira de Tebas em exílio, amaldiçoado e vítima de uma vingança divina. E durante suas andanças no final da vida, a única pessoa que o acompanhou foi sua filha Antígona, até que ele morresse.
Extremamente devota de sua família, Antígone (também é possível encontrar versões com essa variação de nome) voltou a Tebas, que encontrava-se em reinado dividido por seus irmãos Eteócles e Polinices, que fizeram um acordo para compartilhar o reinado em anos alternados. Só que na hora de cumprir o acordo, Eteócles não quis entregar o reino para seu irmão Polinices, que não curtiu muito a ideia. Então para lutar contra seu irmão e conseguir o trono, Polinices fez acordo com Argos (inimigos de Tebas), que reuniu outros 6 exércitos para atacar Tebas. Essa famosa expedição ficou conhecida como Sete contra Tebas, que inspirou muitos poetas e escritores épicos.
Depois de muitos conflitos, alguns envolvendo até o deus Júpiter (ou Zeus, para alguns historiadores), os irmãos decidiram que deveriam decidir os finalmentes em um duelo. Então lutaram, mas os dois morreram um pela mão do outro (tragédia grega né), e então Creonte, que era tio de Antígona, assumiu o trono de Tebas e seus inimigos bateram em retirada.
E é agora que começa a história da peça Antígona (KKK sim). Creonte fez um decreto real, determinando que Eteócles fosse enterrado com todas as honras e glórias que um herói grego merecia, e que Polinices, o traidor da pátria, fosse deixado no lugar que morreu, e que qualquer um que o sepultasse deveria morrer. Antígona, ao saber do decreto, fica indignada ao saber que o corpo de seu irmão seria deixado aos abutres e cães, e decide que ela mesmo irá enterrá-lo e fazer os ritos que considerava essencial ao descanso dos mortos.

Pega em flagrante, Antígona é presa, e após longas discussões com Creonte, é destinada a sepultamento enquanto viva (ela iria ficar presa em uma caverna, recebendo o mínimo de comida para morrer lentamente). Hêmon, filho de Creonte e amante de Antígona, não conseguiu lidar com o destino da amada, e comete suicídio. A mulher de Creonte e mãe de Hêmon, ao saber da morte do filho, também tira a própria vida.
Bom, morte atrás de morte, porque é importante hoje, século XXI, estudarmos e lermos Antígona? Se formos analisar quais discussões a peça levanta, um dos pontos chaves a serem analisados é: Quem determina o que é justiça? E como é aplicado o conceito de ‘justo’ na sociedade para as diferentes classes sociais?
Vejamos, Creonte é o grande representante das leis dos homens, seguindo a risca ideais que, perante os cidadãos de uma cidade destruída pela guerra, deveriam ser levados a sério. Um governante que precisa provar o seu valor para seu exército e seu povo, não poderia simplesmente permitir que o principal traidor da pátria, que levou morte e destruição para sua terra natal, recebesse as mesmas honras que os próprios moradores, cidadãos de bem, recebem quando morrem.
Já Antígona é defensora das leis divinas, pois acreditava-se em toda a Grécia que corpos deixados para apodrecer sem sepultura impediam o descanso do espírito no Elísio (uma espécie de paraíso), condenando a alma à ficar presa na terra. Ela não poderia simplesmente ver seu irmão, que cresceu junto com ela e o amava profundamente, ser condenado a um destino terrível por seu próprio tio. Antígona é também um grande exemplo de fidelidade filial e paternal, por ser devota de sua família até o fim.
A sacada genial de Sófocles é apresentar dois personagens impassíveis de uma condenação certeira e objetiva, pois há possibilidade de defesa e de condenação tanto de Creonte quanto de Antígona, dependendo do ponto de partida de argumentação. E daí surgem outras questões, como: governantes podem submeter pessoas a quaisquer condições sub-humanas, dependendo da gravidade do crime cometido? Pena de morte é justificável? As crenças religiosas de uma pessoa ou população estão acima dos limites impostos por lei?
Qual sua opinião sobre o texto? Quem estava certo: Creonte ou Antígona? Conta pra gente aqui em baixo na sessão de comentários. Não esquece de seguir a gente em todas as nossas redes sociais, só procurar por Teatro em Escala no Instagram, Facebook, Spotify, Deezer ou no próprio Google! Até o próximo texto, Evoé.
AUTOR: JOHN MARQUES
FONTES:
BULFINCH, Thomas. O Livro da Mitologia. 2013
BRANDÃO, J.S. Mitologia Grega. 1987
COUPE, L. Myth. 1997