Olá leitores! Nosso entrevistado de hoje é o incrível Cláudio Lins, que está em cartaz com a peça “Amor Por Anexins” e o show Chico Teatro, e ele contou pra gente sobre o processo desses trabalhos e um pouco de sua trajetória na música e no teatro. Vem com a gente!
TeE: CLÁUDIO É ATOR, CANTOR E COMPOSITOR. COMO FOI O SEU COMEÇO NO TEATRO? O QUE TE LEVOU A QUERER SER ATOR E CANTOR ?
CLÁUDIO: Eu sou de uma família de artistas. Sempre tive arte em casa, meus pais são Ivan Lins e Lucinha Lins, e eu faço aula de piano desde muito novo. A partir dos 11 anos de idade, entrou na minha vida o Cláudio Tovar, que fazia parte do Dzi Croquetes, grupo que fez uma revolução na cultura brasileira. O Tovar trouxe o teatro pra nossas vidas, e acabou sendo uma trajetória muito natural pra mim. Minha mãe e o Tovar naquela época produziram um musical infantil, com muitas crianças além de mim, e desde então eu entrei nessa vida de artista e nunca mais sai.
TeE: SOBRE A PEÇA “AMOR POR ANEXINS”: O TEXTO É UMA COMÉDIA DE COSTUMES DO SÉCULO XIX. COMO FOI O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DESSA PEÇA ? O QUE UM TEXTO DO SÉCULO XIX REVELA SOBRE O BRASIL ATUAL ?
CLÁUDIO: Apesar de ser uma comédia de costumes, esse texto tem uma carpintaria dramatúrgica muito bem elaborada pelo Artur Azevedo, que sempre foi um sonho fazer, porque ele é um dos pais do teatro brasileiro. Ele foi praticamente o criador do teatro de revista no Brasil, que apesar de ser um formato importado da Europa no final do século XIX e começo do XX, o Artur pegou esse formato e transformou em algo muito brasileiro, com muita crítica social, humor, leveza, deboche e muita música.
Então, olhar para críticas escritas por um dramaturgo com 15 anos de idade no século XIX que levanta muitas questões sobre a relação com o dinheiro, sobre o machismo e até mesmo sobre violência doméstica; e percebê-las nos dias de hoje é um desafio para nós enquanto artistas e seres humanos.
Meu personagem é o Isaías, um velho feio. Apesar de eu não ter exatamente o physique do personagem, é construído a partir dessa premissa super bem-humorada. Ele é um solteirão que resolveu se casar com uma viúva e costureira, interpretada pela Mariana Galindo, e o fato de ela ser uma mulher considerada simples para os padrões da época é muito importante para ele, o que revela o machismo dentro de toda estrutura social do casamento no Brasil.
Só que ela não quer se casar com ele, e aí é que entra o jogo do dinheiro, onde ele tenta convencer ela. E a grande característica do personagem: ele só fala com ela por anexins, que pra quem não sabe, são ditados populares. É provérbio atrás de provérbio, o que o torna por um lado muito patético, e é uma delícia interpretar esse personagem assim.

TeE: ORIGINALMENTE, A PEÇA NÃO ERA UM MUSICAL. VOCÊS TRAZEM A COMÉDIA NAS COMPOSIÇÕES DA PEÇA ? QUAL O ESTILO MUSICAL ESCOLHIDO PARA CONSTRUIR A PAISAGEM SONORA ? POR QUÊ ?
CLÁUDIO: Esse texto não é originalmente um musical, mas o nosso diretor Elias Andreato teve a ideia de trazer músicas clássicos do nosso cancioneiro pro espetáculo para trabalhar a recuperação da memória cultural do Brasil, já que precisamos sempre mexer no nosso baú cultural e encontrar coisas que não são mais ditas, nem mais cantadas. Esse texto foi escrito para ser um entreato, então até para dar um tempo de espetáculo maior a música funciona.
A gente traz basicamente o samba, o maxixe, o foxtrote e o tango, que são bem característicos do começo do século XX. Então temos muita coisa do repertório da Aracy de Almeida, que é provavelmente a maior intérprete de Noel Rosa; e a relação do clássico com a modernidade, como por exemplo, cantamos Ai! Que Saudade Da Amélia de Mário Lago e Ataulfo Alves e logo em seguida Desconstruindo Amélia da Pitty, que desfaz a ideia dessa mulher subserviente. Então a música também entra nesse jogo argumentativo do espetáculo, com muito humor e muita leveza.
TeE: VOCÊ TAMBÉM ESTÁ COM O SHOW CHICOTEATRO NO FINAL DO MÊS. COMO VOCÊ ESCOLHE QUAIS MÚSICAS DO VASTO REPERTÓRIO DO CHICO PARA CANTAR? AS COMPOSIÇÕES DELE PARA TEATRO ENTRAM NO SEU REPERTÓRIO ?
Cláudio: Realmente, fazer um show de Chico Buarque é atirar para vários lados, porque é um repertório muito vasto. Eu recebi o convite para fazer esse show no meio da pandemia, e me aprofundei na obra dele direcionada para os palcos. Muita gente não sabe, mas o Chico também escreveu músicas para balé. Por exemplo, O Grande Circo Místico originalmente é um balé para o Balé Teatro Guaíra de Curitiba. Alguns sucessos do Chico, como Tatuagem e Não existe pecado ao sul do equador foram escritos para teatro – Calabar.
Ele é minha maior referência quando eu escrevo para teatro, porque ele escreve canções que se você tirar daquele contexto dramatúrgico, elas sobrevivem e ainda tem seu valor próprio, que é o que eu busco fazer.
TeE: VOCÊ TEM VONTADE DE TRABALHAR COM ALGUM TEXTO OU COMPOSITOR QUE NÃO TEVE OPORTUNIDADE AINDA ?
Cláudio: Eu não tive ainda oportunidade de me aprofundar muito nos textos contemporâneos, principalmente nos americanos e nos ingleses. Por exemplo, nunca fiz um Tennessee Wiliams. Eu fiquei muito tempo capturado no teatro musical, e sinto falta de nos próximos anos me aprofundar em textos mais densos e que exigem mais do ator. Cantar sempre foi muito natural pra mim, e o universo do musical depois de determinado momento começa a não ser mais um grande desafio. Então estou na busca desses maiores desafios artísticos no futuro próximo.
SERVIÇO AMOR POR ANEXINS
Teatro Eva Herz – Av. Paulista, 2073
Sextas e Sábados às 20h
Sábados e Domingos às 18h
Ingressos entre R$40,00 e R$80,00 no site do SYMPLA ou na bilheteria do teatro.
Cláudio Lins: @linsclaudio