Fomos conferir: Bolhas

Com direção e dramaturgia de Haroldo França, o espetáculo ‘Bolhas’ mostra a relação entre uma mãe pastora evangélica e seu filho homossexual, e nós do TeE contamos tudo o que achamos, vem com a gente!

Fonte: Divulgação Valéria Lima

A peça retrata polarizações. Discursos que englobam temas como religião, sexualidade, política e relações familiares são panos de fundo para o principal conflito: a relação entre uma mãe, que segue as regras de sua crença religiosa com afinco, paixão e devoção, recorrendo em muitos momentos a pedidos de ajuda divina; e seu filho, que questiona e se distancia da fé de sua mãe, não se encaixando nas doutrinas que lhe foram ensinadas desde criança, e desejando explorar sua sexualidade que foge aos ideais religiosos de sua família.

As cenas se desenrolam com um diálogo dos dois personagens, que não se comunicam diretamente um com o outro até a última cena. As falas entrecruzadas criam diversos momentos cômicos, pois os personagens estando em tempos e espaços diferentes, a dramaturgia os une mostrando dicotomia sobre um determinado assunto, sempre com uma fala logo após a outra, dando ritmo e dinamismo pro espetáculo.

A platéia, dividida ao meio, observa os dois atores no meio do palco, que olham diretamente para o público enquanto falam, criando ambientação ora de um culto de igreja, ora de uma conversa despretensiosa entre amigos. Ponto alto da encenação é quando os atores apontam lanternas para o rosto das pessoas, que se incomodam com a luminosidade nos olhos, como se os discursos contrários a seus ideais, sejam eles quais forem, impedem as pessoas de olharem diretamente por conta do desconforto. Genial.

Fonte: Divulgação Valéria Lima

A dupla de atores Adriane Henderson e Pablo Azevedo tem ótima química em cena, ambos com trabalho vocal bem estabelecido, criando um jogo muito interessante diante dos olhos do público, trazendo à tona o distanciamento entre os corpos ao mesmo tempo que se atraem pela ausência um do outro. Henderson é extremamente carismática, e consegue criar uma pastora que crê veemente nos discursos que profeta, ao mesmo tempo que explora uma humanidade intrínseca na relação maternal, mesmo entrando em conflito com suas verdades absolutas sobre os caminhos e escolhas do filho.

O espetáculo se encerra com o tão aguardado encontro entre os dois, onde a expectativa é construída ao longo da narrativa, trazendo à tona a necessidade de por de lado todos os desencontros passados e as adaptações que as personagens fazem para de alguma forma tentarem se entender, mesmo sem concordar afinal.

Potente, a peça é um ótimo convite à reflexão sobre a necessidade de empatia para compreender as posições e oposições de pensamentos, em especial daqueles mais próximos e ao mesmo tempo tão distantes de nós. Recomendamos, saímos felizes de poder assistir um trabalho claramente feito com dedicação. Evoé!

SERVIÇO:

Bolhas, da Cia. do Sereno
SP Escola de Teatro – Sede Roosevelt – Sala Hilda Hilst – Praça Roosevelt, 210, Centro
Temporada: 13 de setembro a 14 de outubro
Às sextas, aos sábados e às segundas-feiras, às 21h, e aos domingos, às 19h
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$15 (meia-entrada e classe artística)*
*Pagamento em dinheiro ou cartão de débito

ESCRITO POR: JOHN MARQUES

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