Sim, infelizmente já se passaram 20 anos sem nosso Bobo Plin, uma das pessoas mais brilhantemente únicas que existiu e nos deixou o prazer de ter acesso a suas obras. Hoje, parte da minha paixão pelo ofício do palco se deve a ele, por seus textos tão sinceros, simples e realistas. A Plínio Marcos meu muito obrigada!
Plínio Marcos de Barros, nascido no dia 29 de Setembro de 1935 na cidade de Santos – SP. Filho de Herminia e Armando, era o segundo de seis irmãos: Sérgio, Plínio, Francisco Neto, Cláudio, Marcia e Flávio Roberto.
Inteligente e rebelde, nunca gostou de receber ordens, era briguento e se metia em brigas sem necessidade. Toda essa personalidade junto ao fato de ser canhoto e aguentar as reclamações dos professores, que não aceitavam o garoto escrevendo com a mão esquerda porque consideravam errado, fez com que Plínio tivesse baixo rendimento escolar, e é claro nenhuma dedicação aos estudos, pulando o muro da escola por diversas vezes.
Era um ótimo nadador, junto com sua irmã Marcia, frequentava a piscina do clube que seu pai era sócio. Nadava um pouco e logo ia para o campo do Jabaquara jogar bola, outro talento de Plínio.
Ainda jovem seu pai tentou lhe dar um ofício, então o colocou para aprender encadernação. Foi quando ele teve seu primeiro sucesso como camelô de livros. Seu mestre encadernador fez com ele um acordo: Plínio iria para São Paulo até um deposito de livros não vendidos, pegaria as coleções para seu professor reencadernar e ele vender. Sucesso rápido! Assim Plínio percebeu que era um bom vendedor e se tornou camelô para fazer um dinheiro.
Seu Armando faleceu em 13 de Maio de 1966, aos seus 63 anos. Dona Herminia morreu 20 anos mais tarde, em 1989. Segundo o próprio Plinio, seus pais eram grandes contadores de histórias, muito contadas aos filhos nas noite de reunião familiar.
Talvez por isso a família tenha tão grande importância para Plínio, que nunca mediu esforços para dar carinho e atender os pedidos dos filhos, principalmente a caçula Ana, a filha mulher que ele tanto desejou.
O casamento com Walderez de Barros (por quem Plínio saiu de Santos e mudou-se para São Paulo) durou 21 anos, até o início de 1984. Ele se orgulhava muito de Dereca (como ele chamava Walderez), por ela ele bateu boca com muita gente, críticos e até amigos. Para ele, Dereca era uma das melhores atrizes desse país, e quando ela fez sucesso na novela “O Rei do gado” em 1996, ele falava ao vento que tinham dado a ela um papel de merda mas que ela foi crescendo e no final era uma das protagonistas.
Sobre à vida pessoal e afetiva ele não gostava de falar, o que contava é que teve três filhos, quatro netos e um enteado. Mas omitia um filho não nomeado por ele, nascido de uma breve relação com uma atriz no Rio de Janeiro. Nem o garoto e nem a mãe querem falar sobre essa história.

Jogador de futebol, jogou no Flor do Norte, um time só de crioulos de Santos. Depois foi para a Portuguesa Santista, ali ele e mais dois garotos receberam uma proposta para treinar no Estrela do Piquete, no vale do Paraíba. Lá eles teriam um emprego na cidade e jogariam no time. Quando Plínio viu que o emprego era em uma fábrica de pólvora do exército, ficou puto, largou tudo e foi embora.
Por volta de 1953, antes e depois de prestar o serviço militar, Plínio trabalhou no circo como palhaço Frajola.
Em Junho de 1958 a convite de Paulo Lara para quebrar um galho, participou da peça infantil Pluft, o fantasminha. Foi nesse período que conheceu Patrícia Galvão, a Pagu, que amava o teatro e incentivava o movimento amador.
Então com 23 anos, Plínio escreve sua primeira peça: “Barrela” que conta a história real de um garoto de Santos que foi preso por uma bobagem e acabou violentado pelos outros presos da cela. Quando ele saiu da prisão, tramou o assassinato de quatro desses caras.
Quando Pagu lê o texto ela simplesmente adora, mas apesar de seu elogio, e de muitos outros que chegaram a ler a peça, Barrela é imediatamente proíbida. O texto teve uma única apresentação em 1959 e só foi remontado em 1978, com a abertura política pós ditadura militar.
Estreia, em 1964, como autor de TV com Réquiem para tamborim na Tupi.
“Navalha na carne” é escrita em apenas 3 noites no ano de 1967 e logo foi censurada, mas estreia em São Paulo em Setembro do mesmo ano.
Em 1966, sob a direção de Benjamin Cattan, ele e Ademir Rocha interpretam Dois Perdidos Numa Noite Suja, no Ponto de Encontro, bar da Galeria Metrópole, em São Paulo
Em 1968 começa a escrever crônicas no jornal Última hora e estreia em Beto Rockfeller, na Tv Tupi.
1970 – Plínio escreve “O abajur lilás” e “Balbina de Iansã”, que se mostra pouco satisfatória a crítica e ao público.
Recebe o Prêmio Molière de melhor autor por Navalha na Carne e Dois Perdidos Numa Noite Suja,nos anos em que são lançadas, além do Golfinho de Ouro como personalidade, em 1971.
Sua teimosia, o jeito cabeça dura e seus textos desbocados e cheios de fúria, seu jeito de não aceitar negociar com a Censura, levam à proibição de todas as suas peças, o que o leva a se denominar um “autor maldito”.
A partir do final da década de 70, passa a se interessar por esoterismo, mais especificamente, o Tarô.
Na década de 80, quando o regime militar terminou e suas peças foram liberadas, Plínio novamente surpreendeu. Escreveu as peças “Jesus Homem” e “Madame Blavatsky” nas quais mostra um seu lado mais espiritualista. Em 1985, ganhou os prêmios Molière e Mambembe pela peça “Madame Blavatsky”.
No começo da década de 90, criou um curso: O Uso Mágico da Palavra. E dava oficinas em vários lugares, continuando com sua tradição de mambembeiro e camelô.
Durante muitos anos Plínio vive das edições e reedições auto-financiadas das suas obras, em exemplares que vende nas filas de teatro e que incluem novelas, contos, peças teatrais e romances. Seu lema é – “O escritor é ruim, mas o camelô é bom”. É assim que Plínio vive até o fim, vendendo suas histórias nas portas dos teatros, sendo camelô e vivendo da arte de ganhar a vida que conhecia tão bem.
Sua saúde entrou em declínio a partir de Agosto de 1999, quando sofreu um derrame cerebral que deixou sequelas como a paralisação de seu lado esquerdo, incapacitando sua respiração sem o auxílio de aparelhos. Após sofrer um segundo derrame, no fim de Outubro, foi internado no Instituto do Coração, em São Paulo, com infecção pulmonar.
Faleceu em 19 de Novembro, aos 64 anos de idade de falência múltipla dos órgãos. Seu corpo foi cremado no Crematório da Vila Alpina e as cinzas jogadas no mar na Ponta da Praia, em Santos.
Plínio Marcos foi traduzido, publicado e encenado em francês, espanhol, inglês e alemão.
Bibliografia:
Enciclopédia Itau: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa207390/plinio-marcos>
Plinio Marcos – site oficial: <https://www.pliniomarcos.com/index2.htm>
Mendes, Oswaldo – Bendito Maldito – Uma biografia de Plínio Marcos
Texto por: Gabrielle Risso