Diante uma crise financeira no Teatro de Arena em 1957 a solução foi apelar para montagem de textos dos autores da casa: começando nesse mesmo ano com “Marido Magro, Mulher Chata” de Boal, e em seguida com “Eles não Usam Black-tie”, de Gianfrancesco Guarnieri, que foi uma revisão do texto escrito tempos antes: “O Cruzeiro lá no Alto”.
Diferente das peças em cartaz na época, Eles não usam Black-tie tinha uma estrutura coloquial de diálogos e um realismo de concepção. Retratava a vida da classe operária brasileira da época, se passava em uma favela no Rio de Janeiro e trazia à tona a discussão a respeito do proletariado mostrando o conflito pela sua óptica.
Era uma peça com texto moderno, já que o ano de 1957 foi marcado por greves e mobilizações trabalhistas em São Paulo. Esse caráter politico era buscado pelos atores, e foi muito bem recebido pelo público e crítica, o que fez com que ficasse em cartaz 10 meses, tempo longo para os padrões da época.

Sinopse:
Tião, jovem operário, tem uma namorada e quando descobre que ela está grávida, resolve marcar o casamento. Mas eclode uma greve, e Otávio, pai de Tião, veterano líder sindical, adere ao movimento. Ao participar dos piquetes em frente à fábrica, entra em choque com a polícia, é espancado e preso. O filho fura a greve e credita à militância do pai a miséria em que sempre viveram, criando um conflito no interior da família. As conseqüências de sua atitude são dolorosas e ele é obrigado a enfrentar além de seu pai, o líder grevista, sua própria namorada, que o impele à frente de luta e o abandona.
Animado com o sucesso de “Eles não Usam Black-tie”, o Arena investe forças na criação de outros textos nacionais escritos entre seus participantes. Assim em Abril de 1958 é criado o Seminário de Dramaturgia, onde liam e discutiam os textos escritos por membros do grupo e de onde sairão as montagens seguintes, que respondiam à necessidade do público de ver nos palcos a realidade nacional. Até 1960, foram montados, entre outros: Chapetuba Futebol Clube, de Oduvaldo Vianna Filho; Quarto de Empregada, de Roberto Freire (1927-2008); Fogo Frio, de Benedito Ruy Barbosa.
Black-tie concentra a ação no universo doméstico da personagem central e por optar por um realismo cênico, desloca para fora do palco os debates coletivos do movimento grevista e também o enfrentamento policial com os trabalhadores. Isso exclui do palco a representação do conflito deixando implícita a ideia de que era inviável numa encenação realista no pequeno palco do teatro de Arena.
“O tratamento formal dado a Black-tie deixa clara a preocupação de Guarnieri em manter no texto a estrutura apoiada na progressão da ação rumo a um ápice tensional, a adoção de personagens-indivíduos e o foco da representação centrado no microcosmo doméstico da personagem central.
A peça realiza, com grande eficácia representativa, a contraposição das motivações individuais e sociais, construindo o conflito entre Tião (o operário que fura a greve) e seu pai (o militante que não abre mão da coerência na luta coletiva), tratando-os como personagens agentes antagonizados entre si.” (FARIA, 2013)
Assim Gianfrancesco ignora o caráter épico de seu texto e involuntariamente produz um desafio dramatúrgico que passa a ser recorrente na criação que se abria com a politização do trabalho realizado pelo Arena.
Bibliografia:
Ims: https://ims.com.br/filme/eles-nao-usam-black-tie/
Enciclopédia Itau Cultural: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/evento397907/eles-nao-usam-black-tie
História do teatro brasileiro vol 2 – João Roberto Faria
Texto por: Gabrielle Risso (mas pode me chamar de Gabi)
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