TeE entrevista Anna Toledo

Nós do TeE entrevistamos a incrível Anna Toledo, que é atriz, cantora, compositora, escritora e roteirista. Atualmente assina o texto dos espetáculos: “Vingança – O musical” e “Conserto Para Dois”; a versão brasileira de “Assassinato para dois”; esteve em cartaz com a peça presencial “Mulheres Sonharam Cavalos” e online “Os filhos”. A entrevista você confere a seguir, e ao final você encontra o serviço de todas essas peças para assistir!

Fonte: Instagram @annatoledo

TeE: Anna, conta pra gente sobre o seu começo nas artes cênicas, você começou a atuar ou escrever primeiro? Como a escrita para o teatro entrou na sua vida?

Anna: Eu comecei no teatro como atriz. Minha mãe sempre me levava para assistir peças desde criança, então aos 12 anos eu comecei de uma forma muito natural. E a escrita sempre foi uma forma de companhia para mim, elaborando meus sentimentos e escrevendo histórias desde nova, é um hábito que também trouxe da infância.

Somente há 10 anos atrás que eu comecei a escrever profissionalmente, o que acabou virando uma carreira. Comecei escrevendo para teatro musical, na verdade escrevendo para mim, pois eu estava querendo abrir meu leque de possibilidades.

Eu já trabalhava com musicais na época, mas eu estava presa em uma “caixa” de determinado tipo de personagem, onde sempre me chamavam para trabalhar em papéis muito parecidos, com uma responsabilidade restrita. E eu acreditava que poderia ter mais desafios como atriz, eu queria ter mais responsabilidade cênica, e percebi que isso não iria ser dado pra mim.

Então, eu escrevi uma peça com um papel que eu queria fazer, chamei amigos que eu queria trabalhar e assim foi que aconteceu o musical “Vingança“, meu primeiro musical que foi produzido, isso em 2013, e agora estamos em cartaz no Teatro Raul Cortez.

E de lá pra cá, comecei a escrever também por encomenda, inclusive o espetáculo “Conserto para dois”, com a Cláudia Raia e o Jarbas Homem de Melo. E “Os Filhos“, que estrou online no canal do Núcleo Experimental, que é um texto de teatro falado, também de minha autoria.

TeE: E como é o processo de escrita por encomenda? Geralmente você recebe algum material antes para trabalhar em cima?

Anna: Varia bastante na verdade. Por exemplo, quando me procuraram para escrever “Nuvem de lágrimas”, que foi o primeiro que escrevi por encomenda em 2014, me perguntaram “como você escreveria um musical sertanejo?“, quando o cenário musical da música sertaneja era bem diferente do que é hoje. Eu fiz uma proposta de como eu desenvolveria a ideia, me foi pedido para escrever em cima das músicas do Chitãozinho e Xororó (eu tinha esse briefing) e resolvi adaptar Orgulho e Preconceito pro universo sertanejo.

Já em outro caso, o musical “Divas” eu recebi o nome das atrizes, a temática sobre divas pop e uma playlist com aproximadamente 60 músicas para escolher e trabalhar. Então esse briefing era mais restrito, eu já tinha mais ou menos um caminho para seguir e escrevi a partir dessa orientação.

TeE: Dramaturgias brasileiras têm hoje espaço no mercado brasileiro, ou a maioria das produções prefere trabalhar com textos estrangeiros, especialmente se tratando de teatro musical?

Anna: Esse espaço com certeza é mais difícil. Geralmente quem escolhe os textos não é a produção, mas sim os departamentos de marketing dos patrocinadores.

Teatro musical é muito oneroso, porque mesmo que você tenha somente dois atores em cena, há ainda a necessidade de um equipamento de luz, de som, figurino, cenário, técnicos e nada disso é barato. Então vai sempre precisar de patrocínio e os patrocinadores vão sempre apostar em um título que tem mais garantia de lucro. Um texto que, por exemplo, foi um grande sucesso na Broadway é um risco muito menor para os investidores.

Existe essa visão de apostar no seguro, e na Broadway eles sofrem do mesmo padecer. Quem está abrindo caminho vai ter que lutar mais para ganhar reconhecimento, para ganhar seu espaço.

É por isso que no começo do século, nós aqui no Brasil tivemos muitos musicais pautados em músicas já conhecidas do grande público. Mesmo que o texto seja original, as histórias eram geralmente de grandes cantores reconhecidos, como tivemos em Tim Maia, Elis Regina, Cazuza e etc. Foram espetáculos que tiveram um sucesso estrondoso, e as pessoas iam porque adoram esses ídolos, sem contar que os elencos eram extraordinários. Nós temos um material humano artístico incrível no Brasil, então tudo isso corroborou para o sucesso desses espetáculos.

É menos provável que você vá em uma peça em que não conheça a história, não sabia as músicas. Então o convencimento é mais difícil. A gente confia muito no boca a boca, no material humano, e aos poucos vamos fazendo nosso trabalho de captação e formação de público de um teatro musical brasileiro.

Anna cantando o sucesso da banda Queen “Love of my Life”.

TeE: Como o seu trabalho de escrita influencia no seu trabalho enquanto atriz? Acha que escrever trouxe um olhar diferente da forma como você estuda e lê uma peça quando vai atuar nela?

Anna: Eu tenho uma visão muito estrutural do texto, então quando eu trabalho com um que não é meu, tenho uma certa facilidade em fazer análise e decorar texto, por causa da minha prática. Sou muito aberta a trabalhar textos que têm uma estrutura muito diferente da forma como eu geralmente escrevo, e confesso que acho mais fácil trabalhar enquanto atriz com personagens e textos de outros autores.

Mulheres sonharam cavalos, por exemplo, meu papel é muito desafiador e acho que nunca escreveria um personagem como esse para mim mesma. Então aproveito muito a possibilidade de trabalhar com outros textos e outros personagens que eu mesma não escrevi, pois é maravilhoso conseguir se pensar fora de si mesmo a partir do olhar do outro.

Anna em “Mulheres Sonharam Cavalos”

TeE: Sobre “Os Filhos”, que você escreveu o texto e está como atriz. Conta pra gente sobre como foi o processo desse texto, por que escolheu essa temática agora?

Anna: Esse texto foi escrito durante a pandemia, e foi uma espécie de um processo terapêutico para mim. Quando eu terminei, eu tinha um “protótipo” de um texto que eu não sabia muito bem o que era. Dividi-o com Zé Henrique de Paula, que leu e escreveu uma provocação em cima, e então desenvolvemos esse trabalho em formato de dois monólogos.

É um trabalho muito delicado de nós dois, criado como uma forma de dialogar com nós mesmos e com nossos fantasmas.

Anna em “Os Filhos”

Serviço:

Assassinato para dois
Sábado às 18:00 / Domingo às 19:00 – até 28 de agosto de 2022
Teatro Raul Cortez – Rua Doutor Plínio Barreto, 285, São Paulo
Ingressos via SYMPLA ou bilheteria do teatro

Vingança
Sexta e Sábado às 21:00 / Domingo às 16:00 – até 28 de agosto de 2022
Teatro Raul Cortez – Rua Doutor Plínio Barreto, 285, São Paulo
Ingressos via SYMPLA ou bilheteria do teatro

Os Filhos
Youtube do Núcleo Experimental, clicando aqui

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