Por Suzana Dalessio
Todos nós, em maior ou menor grau, certamente já vivemos momentos de deslocamento, incerteza, dúvidas sobre caminhos a seguir. Em muitas ocasiões, a pressão que sofremos pelo meio onde estamos inseridos reverbera de forma a potencializar a sensação de impotência e desajuste emocional.
É possível que, impelidos pela necessidade de sobrevivência, muitas vezes, refutemos a ideia de que existe algum tipo de desequilíbrio e desajuste. Pode ser ainda que, em razão das prioridades de subsistência, direcionemos o foco para o externo e pouco tenhamos tempo de nos observarmos internamente, entendendo toda a evolução e revolução psíquica pela qual passamos em diferentes fases da nossa existência.
Talvez, os rótulos criados nos diferentes círculos sociais que convivemos, vinculados à questões emocionais, aos processos de adoecimento mental, como depressão, burnout, ansiedade, angústia, stress; tenham afetado ainda mais essa capacidade de aceitarmos que somos vulneráveis, de que não temos todas as respostas, e, que em muitos momentos, necessitamos de ajuda. Precisamos compartilhar, refletir sobre o que sentimos, resinificar emoções, comportamentos, vazios internos e extremos, que nos alienam de nós mesmos.
A relevância da arte como ferramenta, para nos proporcionar a vivência de emoções de fora para dentro, muitas vezes, agindo como catalisadora de emoções, mobilizando expressão de pensamentos, sensações, e reflexões, é fundamental para nos auxiliar nesse processo de compreensão da vida e de nós mesmos.
O teatro, em suas origens gregas, assumindo caráter de celebração, ocupava função de utilidade pública, à medida que o ato dramático exorcizava demônios e libertava deuses do inconsciente. Uma das expressões mais completas, permite a vivência da experiência da pessoa com seu SER – defende Wesley Aragão de Moraes, em Salutogêneses e Auto-Cultivo (2006). Daí o poder do drama e tragédia para mobilização de risos, lágrimas, reflexões e perplexidades.
O Vendedor de Sonhos, montagem baseada no livro do Psiquiatra Augusto Cury, nos faz esse convite a mergulharmos no nosso profundo universo interno. A caminhada liderada pelo ator Luiz Amorim, percorrida no palco do Teatro Gazeta, nos remete a caminhos em diferentes ruas e corredores de nossa própria mente. Nos abriga sob viadutos imaginários de nosso inconsciente e nos desconstrói à medida que nos despimos de nós mesmos. Ratifica a urgência de assumirmos o protagonismo de nossas próprias vidas, trazendo à consciência aquilo que nos causa dor, e nos movendo em busca da reconexão com valores que realmente nos representam.
Suzana Dalessio, Especialista em Desenvolvimento Humano e Gestão de Pessoas pela FGV, Discente do Curso de Especialização em Teorias e Técnicas para Cuidados Integrativos na Unifesp.
Como artista, pesquisa o universo feminino, buscando compreender os ritmos, padrões e espaços vazios que o envolvem. Praticante de Mindfulness e Reiki, incorpora as práticas em suas mentorias individuais e oficinas como facilitadora de processos criativos.
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