No quadro de entrevistas do TeE hoje, conversamos com a talentosa atriz Miriam Freeland, que está em cartaz com a peça “Diário de Pilar na Grécia” aqui em São Paulo depois uma temporada de sucesso na Europa e no Rio de Janeiro. A peça, idealizada pela própria atriz, é uma adaptação do livro homônimo da escritora Flavia Lins e Silva e segue em cartaz até o dia 11 de setembro. Vem com a gente!
TeE: COMO FOI O SEU COMEÇO NO TEATRO? O QUE TE LEVOU A QUERER SER ATRIZ?
MIRIAM: Quando eu era criança, eu comecei na arte através do balé. Sempre gostei muito de dança, meu pai me levava muito ao Teatro Municipal do Rio de Janeiro para assistir espetáculos de dança, então a magia do palco sempre me encantou. Mas eu não tinha muito o pshysique du role para o balé, e fui crescendo nessa batalha interna entre querer dar conta daquilo mas não conseguir por algumas questões físicas. E então eu entrei em um curso pré-profissional de teatro, que tinha aulas de expressão corporal e foi onde eu percebi que eu poderia explorar e trabalhar o corpo com aprofundamento, sem a necessidade da técnica específica e exigente do balé. Foi onde eu me encontrei e me encantei desde muito cedo.
Eu comecei então a fazer teatro no Tablado e nunca mais parei. Foi uma paixão muito precoce, mas eu sempre tive muita certeza de que esse era o meu caminho. É engraçado porque esse momento que estou agora tem a sensação de retorno para esse momento, pois a Pilar é meu retorno ao teatro infantil. Eu fiz 4 espetáculos no Tablado, então eu tive um contato muito grande com a obra da Maria Clara Machado, com esse pioneirismo com um teatro de qualidade para a infância, no pensar a infância com inteligência e sensibilidade, e esse olhar mais qualitativo que pensa na formação de um público vêm muito desse meu berço.
E muitos anos depois, estar produzindo esse projeto que é meu, que nasceu de uma experiência enquanto mãe e leitora, faz essa conexão com a minha própria infância.

TeE: E O QUE FEZ VOCÊ QUERER FAZER ESSE PROJETO NO TEATRO?
MIRIAM: Eu li o livro Diário de Pilar na Grécia com minha filha quando ela tinha 13 anos. Sempre vislumbrei algum trabalho com esse material e durante uma prática budista eu tive um insight: por que não fazer esse trabalho no teatro? Mandei um e-mail para a escritora, dizendo que eu era apaixonada pelo livro e pela saga da personagem, perguntando se ela me autorizava a produzir a peça.
A história de como chegamos no livro é engraçada. Nós íamos fazer uma viagem, onde minha filha ia perder 25 aulas na escola, e por conta disso ela precisaria fazer um diário de viagem para compartilhar com os colegas da classe. Passando em uma livraria, eu vi o livro e as ilustrações, e levei pra inspirar minha filha a fazer o trabalho dela. E o livro me arrebatou. Fiquei muito emocionada com aquele universo, e como o teatro me dá a oportunidade de interpretar papéis que no audiovisual não seria possível por conta da idade, resolvemos criar o espetáculo nos palcos, e deu super certo.
TeE: COMO FOI A ADAPTAÇÃO LITERÁRIA EM UMA DRAMATURGIA? VOCÊ MANTEVE O LIVRO NA ÍNTEGRA, COM OS MESMOS PERSONAGENS E ACONTECIMENTOS, OU ALGO TEVE QUE SER DIFERENTE PARA OS PALCOS ?
Miriam: É sempre um desafio essa adaptação. O livro basicamente está na íntegra, mas a adaptação foi muito bem feita pela Simone Strobel, apesar de termos feito algumas escolhas de soluções cênicas para que o enredo pudesse acontecer. Uma coisa que é muito importante dizer, é que nós não quisemos trabalhar com projeção. A gente queria resolver uma viagem para a Grécia com elementos teatrais, usando ilustrações da Joana Pena (ilustradora do livro), então quem é leitor da Pilar vai reconhecer o livro na peça imediatamente.
Esse casamento do teatro com a literatura funcionou melhor do que eu imaginava inclusive, e eu digo isso porque nós conseguimos cativar também um público amplo de volta ao teatro feito para infância. A história arrebata um público que geralmente fica no whatsapp durante apresentação de peça infantil, e essa era a minha a meta, que a peça conversasse com os pais e com as crianças.
TeE: E PARA VOCÊ ENQUANTO ATRIZ, ESSE PROCESSO DE CRIAÇÃO TEVE UMA DIFICULDADE MUITO DIFERENTE DE OUTROS TRABALHOS QUE VOCÊ FEZ?
MIRIAM: Sim, com certeza. A diretora e encenadora Symone Strobel é uma grande parceira e amiga minha, e mesmo com uma ótima relação com a direção, foi muito difícil o processo de construção dessa personagem pra mim. Eu sou muito controladora, e a diretora me provocava para brincar em cena, e eu dizia “eu não sei brincar, eu não brinquei. Eu sou uma adulta séria, uma atriz séria”. Esse foi o maior desafio, de quebrar meus paradigmas e simplesmente brincar com aquele texto. A personagem é uma menina forte, destemida, que foi criada sem um pai e que vai em busca do avô na Grécia, encarando os desafios dos deuses e heróis gregos para chegar à sua conclusão. E brincar dentro desse universo foi o meu maior desafio enquanto atriz.
TeE: COMO QUE A MITOLOGIA GREGA APRESENTADA NO TEXTO CONVERSA COM O UNIVERSO INFANTIL? POIS A REFERÊNCIA QUE TEMOS DA MITOLOGIA GREGA ESTÁ, EM SUA MAIORIA, LIGADA À GRANDES TRAGÉDIAS.
MIRIAM: A Flávia é muito habilidosa na escrita. Ela faz um mergulho muito profundo e delicado na mitologia dos lugares que ela vai escrever, então a mitologia grega está lá na íntegra, há elementos gregos como o cortar cabeça para nascer uma cavalo, mas de um jeito muito poético e sensível. O elemento trágico aparece, mas de uma forma muito leve, onde ela conduz a emoção e o humor de forma magistral. Na peça, aparecem Dionísio, Zeus, Hera, rei Midas e outros, e percebemos que as crianças absorvem uma mensagem diferente da que os adultos percebem.

TeE: VOCÊ ESTREOU A PEÇA NO RJ, DEPOIS FEZ TEMPORADA EM PORTUGAL E AGORA RETORNA PARA SP. O PÚBLICO DE TEATRO INFANTIL EUROPEU É MUITO DIFERENTE DO BRASILEIRO? O QUE MAIS TE SURPREENDEU NA TROCA COM O PÚBLICO COM ESSE TRABALHO?
MIRIAM: Em Portugal eu notei bastante diferença. O teatro infantil português no geral é de porte pequeno, com recursos e tamanhos geralmente restritos, e quando a gente chegou lá com a peça, que tem um grande cenário, um cavalo que voa, uma iluminação bem trabalhada; surpreendeu o público de lá. Além de ser um público que não conhecia a história, um público que chegou neutro, foi muito legal perceber que as pessoas foram abraçando o projeto e se interessando cada vez mais pelo universo da Pilar.
Nós começamos com um público quase 100% brasileiro lá, mas que com o boca a boca, a divulgação entre os grupos, o público foi migrando. E me surpreendeu a forma como as pessoas se emocionaram com a história, tanto aqui quanto lá. Nós brasileiros somos mais calorosos em nossas demonstrações de carinho e agradecimento, a gente abraça, chora, conta histórias. E o público português chega mais contido, com os olhos marejados, dizendo que foi muito bacana a experiência. Estou ansiosa para trocar essa energia agora com o público paulistano! Aguardo vocês na plateia.
Serviço:
Diário de Pilar na Grécia
Estreia dia 6 de agosto de 2022, sábado, às 15h.
Temporada: 6 de agosto a 11 de setembro – Sábados e domingos, às 15h.
Ingressos: R$ 80 (inteira) e R$40 (meia-entrada).
Duração: 60 minutos. Classificação: Livre.
Capacidade: 769 lugares.
TEATRO DAS ARTES – Shopping Eldorado
Av. Rebouças, 3970, Loja 409, Pinheiros, São Paulo, SP.
Bilheteria: De terça a domingo, das 13h15 às 20h.
Vendas online pelo site Sympla. Informações: (11) 3034-0075.
http://teatrodasartessp.com.br/peca/diario-de-pilar-na-grecia/