O nosso próximo entrevistado é o querido Elias Andreato. Conversamos com ele sobre sua peça online ‘PESSOA’ e seus próximos projetos durante e pós quarentena, e você já pode conferir a seguir:

JOHN: ELIAS, QUAIS ERAM OS SEUS PROJETOS ANTES DE COMEÇAR A PANDEMIA?
ELIAS: Eu estava em cartaz no Eva Hertz com um solo; estávamos com Alma Despejada no Teatro Folha, e tinha planos para agora no começo de abril estrear um solo sobre os contos da Clarice Lispector e músicas da Elis Regina.
J: ALÉM DO ‘PESSOA’, VOCÊ ESTÁ EM OUTRAS APRESENTAÇÕES ONLINES?
E: Sim, estou estreando pelo Teatro Cacilda Becker, a peça ‘Para Duas’ com Karin Rodrigues, Chris Couto e Claudio Curi; e com a Ana Cecília Costa um solo sobre Sta. Tereza D’Ávila pela Vivo.
GABI: VOCÊ ACHA QUE ESSE NOVO FORMATO ONLINE TE POSSIBILITA CRIAR MAIS PRODUZINDO DIVERSOS TEXTOS AO MESMO TEMPO?
E: Esse formato é o que é viável pra esse momento, a gente não sabe ainda definir o que significa tudo isso, está muito cedo. Acredito que o importante não é tentar explicar ou definir, o importante é fazer. É uma forma criativa de se manifestar, de não ficar deprimido ou desistir, mas sim de juntar pessoas. São pequenos projetos, mas ainda assim é uma forma de pensar no outro, exercer o seu ofício, continuar fazendo e ganhando com isso. Me sinto ocupado no sentido criativo, é como eu resisto.
J: SOBRE A PEÇA ‘PESSOA’, PORQUE ESCOLHER E FAZER FERNANDO PESSOA JUSTAMENTE NESSE MOMENTO? DE ONDE VEIO ESSA IDEIA?
E: Eu li Fernando Pessoa pela primeira vez quando tinha 17 anos, eu morava na periferia, sem informação e muito despreparado. E esses poemas do Pessoa me tocaram muito, e ele permaneceu na minha vida de uma forma muito intensa durante esses anos todos. Eu sempre reli, ouvia, recitava e gravava pra mim mesmo.
Ele é o poeta do isolamento, passou a vida dele trancado em quartos escuros com pouca luz escrevendo em pé. E ele produziu toda a obra dele trancado nesses quartos, sempre dizendo que a ‘arte é um isolamento‘. Então eu pensei: se este homem, que viveu a vida toda trancado num pequeno quarto, produziu tanta coisa maravilhosa, porque a gente não pode nesse momento também produzir?
Tendo isso em mente, eu peguei a primeira obra dele que se chama ‘O Marinheiro’, que ele escreveu aos 22 anos em 3 dias, e que serviu como inspiração pra toda a trajetória literária dele. Achei que combinava com esse momento, combinava comigo, pois a poesia ajuda você a suportar a aridez da vida. E então fui fazer a peça.
J: E COMO VOCÊ FEZ A ADAPTAÇÃO DO TEXTO PARA UM MONOLÓGO? PRA QUEM NÃO CONHEÇE, NO TEXTO HÁ 3 MULHERES, EM UM DIÁLOGO BEIRANDO O TEATRO DO ABSURDO, QUE ESTÃO VELANDO ESSE MARINHEIRO.
E: Na verdade, o Fernando Pessoa tem os heterônimos, personagens que ele inventou e que cada um pensa diferente, tem personalidades diferentes. e que vieram dessa obra, dessas três irmãs. Elas são distintas, falam da mesma coisa, mas cada uma com uma visão.
Então, eu parto do princípio de que quem está falando é o poeta. Ele se contradiz, fala sobre existência humana, angustia, passado, a memória… Então é o poeta falando por ele usando essas vozes: “Quem é que está falando por mim? Quem é que está falando com a minha voz?”
Ele afirma: “tenho mais almas que uma, há mais ‘eus‘ do que eu mesmo, existo, todavia, indiferente a todos. Faço-os calar, eu falo.”
G: E O ELIAS, TAMBÉM TEM UM POUCO DE TODAS ESSAS FACES DENTRO DELE MESMO? HÁ UMA IDENTIFICAÇÃO?
E: Com certeza, porque ele é um poeta que fala da angústia de estar vivo. Ele diz: “Navegar é preciso. Viver não é necessário, necessário é criar”. Então acho que combina comigo essa inquietação artística, esse temperamento da necessidade de criar, acho muito legal. Ele tem uma frase que vale muito a pena: “Quem não consegue ver bem uma palavra, não consegue ver bem uma alma”. Acho que isso define a importância da palavra, do pensamento.
A gente vive num mundo tão fútil e efêmero, que quando você se depara com alguma profundidade você se identifica. E esse é o papel do artista, estar atento à isso né.
J: E VOCÊ TEM VONTADE DE LEVAR ESSE TEXTO PROS PALCOS, QUANDO FOR POSSÍVEL?
E: Sim, eu queria fazer num lugar bem pequeno, intimista. Como se quem entrasse, estivesse no quarto do poeta junto com ele. O legal da câmera é que, apesar de ser uma linguagem relativamente nova, permite uma visão mais íntima.
O ator do teatro não está muito habituado com isso, mas é um aprendizado maravilhoso. Você poder fazer isso pequeno é muito gostoso também, sem a necessidade de ter 500 pessoas assistindo. Talvez com duas ou três já seja uma experiência muito prazerosa.
Quem está fazendo esses experimentos online precisa entender é que a entrega precisa ser a mesma de estar no teatro, na televisão, no celular… Eu posso entender que o volume tem que ser repensado, mas em qualquer linguagem dessas eu vou precisar da verdade desse jogo. Então se eu tiver verdade, pode acontecer qualquer coisa.
PESSOA
Duração: 50 minutos
Classificação indicativa: 12 anos
VENDA INGRESSOS E ACESSO À TRANSMISSÃO:
https://www.sympla.com.br/pessoa__906739
ESPECIFICAÇÃO TÉCNICA: baixar o aplicativo Zoom, preferencialmente no PC ou notebook. Também é possível assistir por tablet, celular ou emparelhamento com Smart TV.
Horário: domingo às 18h.
Ingressos: Gratuitos limitados aos primeiros espectadores. E de R$ 10,00 A R$ 50,00.
Parte da arrecadação será destinada ao Fundo Marlene Colé e APTR