Criado em 1938, o grupo Os Comediantes tinha como objetivo um teatro que seguisse na linha do movimento de Dullin, Copeau, Pittoeff, Baty e Jouver, na França. Na realidade, o objetivo principal desses artistas era o de fazer um teatro diferente do que existia até então, para eles, um teatro sem conteúdo artístico.
O grupo acaba nascendo da inquietação de intelectuais interessados na entrada, mesmo que tardia, do teatro brasileiro no movimento iniciado pela Semana de Arte Moderna.
Assim era o grupo Os Comediantes, que havia estreado em 1939 com a peça A verdade de cada um, de Pirandello. Coordenado por Brutus Pereira e Santa Rosa, o grupo reunia artistas amadores, mas com forte convicção de transformar nosso teatro. Seguriam entao uma linha que se espelhasse no teatro moderno europeu. O próximo passo era complementar o elenco com artores de aparência mais madura (já que os componentes do grupo eram bem jovens).
Com dez contos de réis obtidos para os custos junto ao SNT, a ajuda de Santa Rosa e móveis e objetos antigos alugados para cenário, Os Comediantes subiram ao palco com A verdade de cada um no dia 15 de Janeiro de 1940.
A repercussão foi grande, gerando expectativas para o segundo espetáculo, que estreou duas semana depois: Uma mulher e três palhaços. Após esse espetáculo, o dinheiro do grupo acabou, impossibilitando assim as outras duas montagens que estavam em ensaio: Um Capricho e A Morte Alegre, de N. Evreinov.
Por conta da dificuldade financeira, o grupo decidiu reapresentar a peça de Pirandello. Nesse momento ocorre o encontro que mudaria o destino da cia. Agostinho Olavo, que integrava a diretoria do grupo, conheceu um polonês, fugitivo da Segunda Guerra e de passagem pelo Rio: Zbgniev Ziembinski.
Sabendo do desejo e situação do grupo, ele logo se interessou e foi conhecer o trabalho dos artistas de perto. Assim acabou integrando o trabalho em andamento.
A remontagem de A Verdade de cada Um, que ficou um mês em cartaz e foi sucesso.
Em reuniões internas, o grupo discutia um novo repertório para ser encenado, foi então que Brutus Pedreira trouxe um novo texto originial, e nacional para ser avaliado: Vestido de Noiva, de um desconhecido Nelson Rodrigues. Aprovada por todos, a peça foi incluída no repertório da segunda temporada de Os Comediantes.
Em meio a outras peças que foram encenadas, Vestido de Noiva subiu ao palco em 28 de Dezembro de 1943 e tornou-se um marco não apenas na história do grupo, mas também na do teatro brasileiro: o primeiro espetáculo realmente moderno em termos de concepção e realização, e com texto brasileiro também moderno. O espetáculo reunia um texto bem construído e técnicas de vanguarda para o teatro brasileiro. O foco dramático se deslocou do texto para a expressão visual de seu conteúdo psicológico, por meio de uma cenografia revolucionária. Renascia a estética cênica brasileira.

Ziembinski trouxe da Europa as ideias de unificação dos elementos de cena (cenários, atores, luz, som), usando no espetáculo do grupo que foi encenado no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Ao fim da sessão, um silêncio tomou conta do Teatro Municipal. Elenco, diretor, equipes e até Nelson Rodrigues gelaram. Uma vaia ameaçou surgir, mas foi calada pelas primeiras palmas daqueles que se recuperavam do impacto diante da onda que acabara de sacudir, para sempre, nosso teatro. As palmas se multiplicaram e uma ovação tomou conta do lugar. Nascia o moderno teatro brasileiro.
Vestido de Noiva foi ovacionado, comentado e discutido em todos os aspectos. Um dos principais elementos que os levaram a alcançar esse feito foi a incorporação de um diretor de cena. Até então, no Brasil, as peças eram dirigidas pelo ator principal da companhia, que conduzia os espetáculos em torno de sua própria atuação.
O grupo Os Comediantes representa um marco por sua preocupação em unir duas abordagens em espetáculos, a que falava com as massas e fazia rir e a mais hermética e bem elaborada. Assim, seus integrantes dedicavam-se a produzir espetáculos que fizessem rir e atraíssem o grande público e, ao mesmo tempo, empenhavam-se em garantir a qualidade dos textos, da iluminação, dos cenários, enfim, do conteúdo apresentado.
Ao oferecerem um teatro que fazia rir e, ao mesmo tempo, refletir, Os Comediantes correspondiam aos anseios das camadas médias.
Em meados de 1944, Os Comediantes apresentam seu repertório no Teatro Municipal de São Paulo com enorme repercussão entre os grupos amadores paulistas. Em 1945 reencenam Vestido de Noiva e começam a pensar na possibilidade da profissionalização. Depois de montarem A Mulher sem Pecado (primeira peça de Nelson Rodrigues) e Era uma Vez um Preso de Jean Anouilh o grupo estava falido e a continuidade era incerta.
Nessa época, Miroel Silveira, que tinha criado o Teatro Popular de Arte em Santos, estava no Rio e sem lugar pra se apresentar porque todos os teatros estavam ocupados, inclusive O Ginástico, que estava reservado para Os Comediantes. Por sugestão de Brutus Pedreira, os dois grupo se fundiram e se tornaram Os V Comediantes.
Miroel Siveira se tornou tesoureiro e organizador das temporadas, Santa Rosa ficou como vice-presidente e Brutus Pedreira como secretário. A primeira montagem do novo grupo foi Desejo de O’Neill, o espetáculo deu início a fase profissional do grupo, que infelizmente não durou muito tempo.
Em 1947, já com o nome Os Comediantes Associados, apresentam Terra do Sem-Fim, adaptação do romance de Jorge Amado e Não Sou Eu… de Edgar Rocha Miranda e saem dos palcos depois de deixar história no teatro brasileiro.
Texto por: Gabrielle Risso
Bibliografia:
Enciclopédia Itaú Cultural – <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/grupo399356/os-comediantes>
História do Teatro Brasileiro – Volume II – João Roberto Faria