Enquanto no século XII, em alguns países da europa o teatro feito pelas igrejas ia muito bem, na Inglaterra ele não produziu grandes paixões, por isso logo esses textos encenados passaram para as mão das guildas (corporações que tinham nas mãos oensino de ofícios). Como não haviam ofícios destinados as mulheres, as dramatizações eram feitas apenas por homens, daí o motivo de o teatro elizabetano não ter atrizes e pouquissímos personagens femininos.
Mesmo não “pertencendo mais a igreja”, eram elaborados “ciclos” (cada ofício apresentava um episódio seguindo a sequência bíblica do Gênesis ao Juízo Final), que eram montados em cima de uma plataforma sobre rodas e apresentados em vários locais da cidade, na época de Corpus Christi, para que todos vissem. Vale ressaltar a quase inexistente qualidade literária desses textos apresentados e feitos totalmente pelas guilda. Com a crescente popularidade dos ciclos bíblicos, juntou-se a eles as peças sobre snatos, que eram apresentadas nas datas dedicadas a eles. Esses tipos de dramaturgia ainda mantiveram seu sucesso nos séculos XIV e XV.
Veio desse “teatro sobre rodas” importantes característica do teatro elizabetano como: ausência de cenários, espaço cênico único, e a criação de imagens visuais pela palavra, já que não havia cenário.
A próxima etapa do desenvolvimento do teatro da Inglaterra nesse período veio quando membros de algumas guildas gostaram dessa bricadeira de atuação e resolveram largar seus ofícios para seguirem fazendo teatro. Se reuniram em pequenos grupos itinerantes e saíram em busca de plateias.
A primeira dificuldade foi a proíbição de encenarem peças com temas bíblicos e até mesmo as que falavam das vidas dos santos, já que abandonaram as atividades religiosas e resolveram seguir sem as guildas. A parte boa de tudo isso, é que esses artistas independentes tiveram que criar suas próprias peças, surgindo assim novos autores e tramas muito mais espetaculares para atrair o público, que agora tinham que pagar.
Em meados de 1534, quando Henrique VIII separa a igreja da Inglaterra de de Roma, tornando-a protestante e o primeiro país independente da europa, as peças biblicas deixaram de ser apresentada por conta de política religiosa.
Por volta do século XV, então, começaram a surgir outras formas dramáticas, que são muito significativas para o desenvolvimento da dramaturgia inglesa.
A primeira é a da moralidade – os autores tinham que criar seus próprios enredos, extremamente moralizantes, com principios ainda ligados à religião. O que mudaria já no final do século XV e início do século XVI que passaram a tratar de temas mais éticos e morais do que religiosos.
Essas peças eram encenadas em áreas circulares com o público cercando o todo.
Logo depois surgem textos com temas do folclore inglês, como Robid Hood. São pequenas comédias de costumes, que mais se preocupam muito com a elaboração dos diálogos.
Já por volta dos anos 1550 aparecem pela primeira vez autores influênciados pelo teatro romano. Ralph Roister Doister – de Nicholas Udall, é a primeira comédia romana do renascimento inglês.
Em 1561/1562 aparece a primeira tragédia senecana – The Tragidie of Gorboduc; or Ferrex and Porrex – Thomas Sackville e Thomas Norton. Primeira peça a empregar o pentâmetro iâmbico sem rima, o verso branco, o mais usado no teatro elizabetano.

Em 1558, quando subia ao trono Elizabeth I e toda sua corte, a Inglaterra foi se tornando um centro de arte e cultura, com tanto, uma nova dramaturgia foi surgindo. Essa, um pouco mais sofisticada e criada para ser interpretada pelos meninos cantores da capela real já que eles saberiam dizer e cantar muito bem a poesia desses novos textos. Talvez isso fez com que os otores se voltassem para esse novo estilo de texto poético e mais denso que os que eram acostumados.
Uma das peças que mais se destaca desse período é Campaspe, de John Lyly, que pertence aos the university wits (os espíritos universitários), que nasceram na classe média, as vezes bem modesta, e que passaram a conhecer, muito bem, o teatro romano na universidade.
A liberdade de forma dos the university wits permite que cada uma de seus autores criem livremente, à sua maneira, desde que contasse uma história interessante e fizesse isso de forma teatral.
Thomas Kyd faz parte desse grupo, mesmo sendo uma exceção já que recebeu educação clássica.
Na dramaturgia elizabetana se deu a junção dos cinco atos da dramaturgia romana à vitalidade e ação do teatro medieval, à busca da qualidade no diálogo, com o aparecimento de falas idiossincráticas, da natureza e posição das personagens e à criação de protagonistas marcantes. As peças de moralidade, junto com a estratégia discursiva da igreja protestante (que dominava a Inglaterra na época), ajudaram na aceitação dos cinco atos em versos propostos pela nova dramaturgia.

A Tragédia Espanhola, de Thomas Kyd e Tamerlão, de Christopher Marlowe, marcam o momento em que o teatro inglês atingiu seu esplendor.
Essa dramaturgia só apareceu dessa forma tão irradiante, porque aproveitou o momento das transformações politicas e sociais que o país passou no XVI, que propiciou mudanças significativas nos espetáculos e também nos textos. Nessa época mais da metade da população de Londres era alfabetizada, por isso a importancia da sonoridade dos versos e a capacidade da platéia de apreciaá-los devidamente. Essa evolução dos hábitos e da língua foi importante para o aparecimento da nova dramaturgia inglesa.
O teatro construído por James Burbage mostra a evolução para o palco renascentista. Uma plateia quadrangular ou circular em torno de um pátio central, para o qual se projeta o palco principal, o interior e o palco superior. Esse teatro a céu aberto oferecia total liberdade criativa para quem escreve, atua e também à plateia que usava da imaginação para usufruir do que acontecia no palco.
A plateia ficava em pé no pátio em frente ao palco, ou nas arquibancadas ao redor, isso oferecia uma visão plena da área de atuação, mas era uma desafio para a interpretação dos atores (apenas homens nessa época). Por isso as atuações eram exageradas no teatro elizabetano, isso ajudava o público a identificar cada expressão ou sentimento proposto pelos atores.
Esse conhecido exagero veio dando lugar a uma encenação mais contida e realista a medida que essa dramaturgia foi evoluindo e autores como Shakespeare exigiam mais sobriedade. como podemos ver em Hamlet, quando ele aconselha os atores que chegam em Elsinor.
Bibliografia:
Barbara Heliodora – Dramaturgia Elizabetana
Texto por: Gabrielle Risso